sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ele só anda de taxi, também

O MAIS SOLITÁRIO DOS HOMENS


Enquanto houver esperança, eu só ando de táxi. Andar de táxi é ter o conforto do chauffeur (na minha geração ainda se usa essa palavra?) sem o constrangimento da ostentação. Tenho uma ligeira sensação de que estou sendo invasivo, afinal estou sentado durante um tempo no local de trabalho daquele sujeito. É como se eu entrasse na baia de um escritório e ficasse durante quinze minutos olhando um arquiteto trabalhar. Eu me sentiria na obrigação de ao menos perguntar “essa aí do porta retrato é sua filha? Fofa.”, pra não parecer um desagradável. Por isso sempre converso com os taxistas. E, lá no fundo, enquanto escuto ele comentar o tempo e o ar-condicionado quebrado que a peça do conserto é uma fortuna, espero sempre que me seja oferecido um mero cafezinho
(Fernando Ceylão - Ator, autor e diretor)

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