sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Vai de Taxi

O tom imperativo dos usuários de micro ônibus de São Paulo me assusta.
Como todos sabem, esses pequenos coletivos são os remanescentes das antigas “Peruas”.
As vans clandestinas que rodaram por muitos anos na capital. E como descendentes diretos, alguns costumes, como costuma acontecer permaneceram. Engraçado como a sociedade cria preceitos e são seguidos por um tempo e por um povo, mesmo depois da invalidade destes. Conta-se que em Roma, as pessoas ainda curvavam-se em honra ao Imperador, mesmo depois de muitos séculos da derrocada do Império.
Hábitos, como gritar o trajeto da lotação, mesmo havendo uma placa indicativa. A presença irreverente, quase lúdica do cobrador; a vontade insana de correr, saltar sobre lombadas, matar pessoas e concorrer com ônibus. Mas a principal herança que as ancestrais Kombis nos deixaram foi a flexibilidade de desembarque, ou seja, você pode descer onde quiser.
Sou totalmente contra, afinal lugar de parada é no ponto, mas enfim. Às onze da noite, em frias noites e em lugares obscuros, eu perdôo. E confesso que até faço uso desse artifício prático. Mas alguns excedem-se. Qualquer lugar se torna referência de parada. “Escadinha desce!” Como assim “escadinha desce”? Orelhão, por favor, clamam os educados. E daí varia-se: lombada desce, pixação a frente desce (???), no toldo azul, no cachorro a frente, desce; na esquina, na valeta, na fiação, na viela (EU!rsrsr). Daí o infeliz do motorista tem de decorar todo o percurso e suas variantes. A incidência da luz e as fases lunares influem um pouco. E quando ele, contudo, esquece de parar no local indicado, do fundo vem um grito aterrador: na escadinha, idiota! E vários xingamentos são expelidos. Me perdoem as feministas, mas as mulheres são as mais escandalosas. Tem uma loira que invocou até a mãe do motorista. Imaginem como. Uma noite, ouvi a até a palavra caralho, invocada com ira. O ofendido, calado, resigna-se.
É tão passivo quanto eu, no banco. Ele rememora o caminho a ser seguido e as possíveis paradas, uma alusão a jornada da vida e, eu, sugestiono, em silencio, apaziguador: “vai de táxi”!

Nenhum comentário: